A MENSAGEM ESQUECIDA NA PREGAÇÃO CONTEMPORÂNEA
A MENSAGEM ESQUECIDA NA PREGAÇÃO CONTEMPORÂNEA
Dentro da minha perspectiva, creio que um dos grandes erros da teologia cristã na atualidade, é a mensagem que é pregada nos púlpitos. Esta aponta exclusivamente a transferencia do Reino de Deus para um evento exclusivamente pós morte. Não creio que Jesus tenha tido isso em mente. Ele anunciou por diversas vezes “O reino de Deus é chegado” ou "o Reino de Deus está próximo”. Confundiu-se Reino de Deus e Reino dos céus, como se fossem dois estágios ou dois tipos de reinados. Mas o termo céus, como é usado em Mateus, deve ser visto no contexto da cultura judaica. Ele como um judeu não abusava do uso do nome de Deus, assim o substituia pela expressão céus. Hoje a mensagem de Jesus foi desvalorizada no amplo conteúdo pois foi transferida para um mundo celestial, espiritual e pós morte. Isso leva a grande maioria dos cristãos e pregadores, a transformar a mensagem do Reino, numa mensagem alienante, sem vida, e sem transformações sociais, políticas, econômicas e práticas. Assim a mensagem tem um foco de contexto moralista e de valores da classe media, deixando os mais necessitados sem as respostas as questões que eles enfrentam diariamente. Esta mensagem mais plâtonica ou gnóstica esquece que Jesus, Paulo e os apóstolos falaram da ressurreição do corpo e não ensinaram sobre a imortalidade da alma
As curas e o perdão, são sinais que o Reino de Deus está presente. Estas manifestações não eram esperadas para uma vida pós morte. Eram as manifestações restauradoras de Deus nas vistas no Reino de Deus, que marcava a vida pessoal daqueles que se aproximavam de Jesus. O reino se manifestava nos necessitados que não tinam acesso a cura física, nem tinham acesso ao mundo sacerdotal na procura do perdão, pois eram escassos dos recursos financeiros e das ofertas que eram exigidas pelos religiosos. O perdão dos pecados, que era ligado pela tradição religiosa as doenças, era declarado e entregues por Jesus, àqueles que precisavam. Nesta pratica de Jesus, ele ensinou aos seus para que declarassem o perdão àqueles que precisavam. Esta forma de agir de Jesus foi confirmada na ultima festa da páscoa, quando os seus seguidores aprenderam com Jesus, que através da sua morte havia uma nova aliança que é para todos aqueles que a desejarem, recebendo a possiblidade de participar desta festa e do perdão divino.
Também o exorcismo praticado por Jesus è prova cabal que o Reino de Deus tinha chegado. A luta entre Deus e as forças demoníacas acontecem dentro de uma realidade histórica e concreta. A luta que se apresenta é uma luta histórica entre as forças criativas divinas e as forças destrutivas demoníacas, uma luta pelo controle do processo histórico. Isso acontece no nível do povo e da sua situação histórica. Não acontece no mundo espiritual do gnosticismo, nem no zoroastrismo. A luta entre as duas forças espirituais ocorria nos corações de pessoas individuais, de modo que tanto sua conduta individual e no seu grupo sociopolítico era determinado por sua respectiva porção dos dois espíritos da verdade e falsidade. Segundo Richard Horsley: “ As visões de Jesus, e provavelmente da maior parte da sociedade judaica, estavam longe de ser tão rigidamente dualistas nos níveis sociopolítico e individual, mas parece que imaginaram Satanás como tendo certo domínio sociopolítico e os demônios controlando pessoas possuída
Um dos textos interessantes da relação entre o poder politico, as curas e exorcismo de Jesus, está em Lucas 13:31-31, A preocupação de Herodes Antipas em reprimir Jesus, ele parece focar exatamente nestas curas e libertações. “Parte e vai-te daqui, porque Herodes quer te matar” E Jesus responde: Ide dizer a essa raposa: Eis que eu expulso demônios e realizo curas hoje e amanha, e no terceiro dia termino meu trabalho”. Dessa forma vemos apontando para os governantes e/ou representantes oficiais que viam as atividades de cura e exorcismo de Jesus como uma ameaça à ordem estabelecida. Jesus estava apontando que as autoridades devem servir ao povo e não vice versa. Paulo confirma isso em Romanos 13 quando afirma que estas autoridades devem "fazer o bem" A libertação de pessoas de forças alheias demoníacas, a derrota de Satanás por Deus e o fim da opressiva ordem social estabelecida estavam acontecendo simultaneamente
O Brasil atual vive uma crise politica, econômica, social e saúde nunca vista na sua história. As redes sociais e a tecnologia da informação nos oferecem quase que diariamente os escândalos em todos os níveis da sociedade. A corrupção, violência, abuso do poder, insegurança, ausência de uma saúde publica digna, uma educação sem conteúdos e a violação dos direitos civis e humanos são uma constante. As nódoas sociais marcam o pais:. Um ex presidente condenado é anulado seu julgamento e eleito presidente, um juiz declarado sob suspeita mas eleito senador, um presidente que se nega a reconhecer a derrota e "foge"para o exterior para não reconhecer o novo presidente, milícias, fraudes uma comissão de constituição e justiça corrupta, centenas de políticos fazem parte da denuncia da corrupção. Deputados recebendo milhões de reais para defenderem o presidente denunciado. Um ex presidente da Camara dos deputados preso. Senador propondo o possível assassinato do delator.O Governador de um dos estados mais populares e turístico no mundo sendo condenado por corrupção e deixando o estado numa situação de calamidade pública. uma pandemia que tem levado milhares de brasileiros à morte. Um vírus e um remédio transformou e polarizou o Brasil nível social e politicamente. Um pais que volta ao mapa da pobreza, os vulneráveis e sem tetos tomam as ruas, a cracolandia um problema crônico. Realmente os demônios desceram no Brasil. E a igreja não percebeu. Ela não percebe pois ela navega nas ondas do seu mundo espiritual. Nesses fatos indicados esta o ladrão que veio para "matar e destruir". Mas a igreja esquece que o verbo se fez carne e habitou entre nós. Este é o espirito de Cristo que Paulo pede aos Filipenses
Aqueles que ocupam o poder legislativo e se declaram como representantes dos cristãos evangélicos, calam não somente as suas bocas mas também as suas consciência. Esquecem que a maior parte do membros das igrejas evangélicas vem da periferia e são os trabalhadores que fazem o Brasil crescer. São trabalhadores que gastam horas no transporte público e os quais lhes são subtraídos os seus direitos sociais. E ainda muitos deles, nos fins de semana dedicam o seu tempo para exercer alguma atividade eclesiástica nas igrejas locais. Assim o tempo que deviam dedicar ao descanso e a família é usado para ajudar e auxiliar outros e assim suprir aquilo que o Estado não lhes entrega. Estes trabalhadores precisam ser dignificados por aqueles que afirmam que os representa, sirvam a este povo, pois o texto de Romanos 13, os chama de “ministros de Deus”. E ministro, é servo, é aquele que serve ao outro. Estes representantes devem lembrar as palavras de Jesus: "O maior dentre vós será vosso servo” ; ou"E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo”
A igreja em muitos lugares se reunem somente para um ajuntamento.Ela esquece que o Reino de Deus que está presente no meio de nós, veio para transformar. As marcas do Reino apresentada por Jesus não são proclamadas pelas igreja e nem são propostas ao mundo. Transformar a tristeza em banquete é a proposta do Reino. A visibilidade da ação satânica ou demoníaca também é vista nas estruturas sociais e na opressão com os mais necessitados. Na sinagoga de Nazaré Jesus pregou que vinha libertar os oprimidos e os quebrantados de coração. E essa mensagem foi espiritualizada para oprimir os excluídos sociais. Mas as circunstancias históricas nas quais Jesus proclamou esta verdade, vai além da espiritualidade gnóstica tão comum nos dias atuais. Ela é uma mensagem histórica vivida no momento e contexto. O povo daquele tempo vivia sob a opressão de um império romano e com a sua liberdade cerceada. Hoje vemos um povo oprimido e quebrantados de coração, pois não sabem se amanha ainda estarão vivos e o seu posto de trabalho disponível.
Concluo citando: Quando Jesus pregava o Reino de Deus era iminente, ele não se referia a algum lugar ou algum ato escatológico final e cataclísmico de Deus que causaria o fim da história. Na pregação de Jesus, o "Reino de Deus", referia-se à ação salvadora de Deus, e das pessoas que recebera os benefícios dessa ação da graça divina esperava-se que glorificassem Deus em gratidão. A preocupação central do Reino de Deus, na pregação e prática de Jesus, porém, é a libertação e bem estar do povo. Em sua perspectiva mais ampla, a compreensão de Jesus do "Reino de Deus" é semelhante às esperanças confiantes expressadas na literatura apocalíptica judaica . Ou seja, Jesus tinha plena confiança de que Deus estava restaurando a vida da sociedade e de que isso significaria o juízo para aqueles que oprimiam o povo e a vindicação daqueles que eram adeptos fiéis a vontade de Deus e que respondiam positivamente ao reino. Ou seja, Deus estava realizando iminente e presentemente uma transformação histórica. Em linguagem moderna, isto se chamaria de "revolução" (Richard Horsely, Jesus e a Espiral da violência) Uma revolução não violenta mas coberta pelo amor e pela paz transformando o mundo
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