DISCIPULADO OU PROSELETISMO? ONDE ERRAMOS

 Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. Mateus 28:18-20


Este tem sido um dos versículos que nos últimos tempos muito se tem pregado, falado ou escrito. Isso é bom, pois há uma grande necessidade do cumprimento da Grande Comissão de uma forma integral. Fazer discípulos é o desafio do século 21. Mas há uma grande confusão de termos. Muitos entendem que discipular é passar informações doutrinarias ou teológicas. Embora estas sejam importantes, e deve acontecer esta informação, mas não é somente isso. Vemos Jesus em que momentos Ele parava para ensinar os seus discípulos ou apóstolos. Vejam que os discursos de Jesus estão permeados com os acontecimentos ou eventos especiais. Noutras palavra, as situações existenciais provocavam o ensino ou na linguagem protestante a “sã doutrina”.

PRIMEIRO ERRO. Discípulo, não é aluno. Discípulo é um seguidor. Confunde-se professor com Mestre. O contexto bíblico, na prática do discipulado, vai além do transmitir conhecimento, como o professor o faz. Alguém que deseja aprender sobre a vida sob os cuidados do seu mestre. Não há "doutrinas a priori", há vida prática. É encarar a vida junto ao discípulo e dar respostas as questões existenciais. Biblicamente ser discípulo era aprender a viver sob as diretrizes do mestre. O discípulo procurava um mestre para que este orienta-se a sua vida e desse a formação para a vida. Era conviver juntos. Este convivio trazia a práxis e a teoria. Era fazer isso ou outra coisa por causa de uma "teoria"ou filosofia de vida que mais tarde seria ensinada


Por isso algumas perguntas que martelam a mente é, se está realmente fazendo discípulos de Jesus ou meus discípulos? Estamos seguindo a orientação do Mestre Jesus de como fazer discípulos? Hoje, e se pode ver que através dos tempos foram cometidos alguns erros sobre a prática do discipulado. O objetivo desta reflexão não é criticar quem está fazendo discípulos, mas aperfeiçoar a prática para que fique mais próxima do texto bíblico e da prática de Jesus. Não se faz discípulos com 8 ou 10 lições bíblicas numa sala ou em qualquer lugar


SEGUNDO ERRO, o discipulado não está amarrado a um período de lições, mas este discipulado se faz junto ao caminhar do tempo da vida. O discípulo tem um Mestre e o aluno tem um professor, estas figuras se confundem. Elas não são sinônimas. Nem todo professor é um Mestre, mas todo Mestre é um professor. Somente o Mestre faz discípulos, pois Ele conduz o aprendiz no caminho da vida e não das letras ou das doutrinas, embora em algum momento este ensino tenha de fazer parte do discipulado


TERCEIRO ERRO, as igrejas criam classe de discipulado para batizar pessoas. Muito do discipulado contemporâneo termina quando o aprendiz se batiza após um determinado número de lições, mas isso não está no texto em epígrafe. Veja que a sequencia lógica é
  • Fazer Discípulos ( ensinar a viver pelo exemplo acompanhando o Mestre)
  • Batizem em Nome do Pai, do Filho do Espirito Santo (decisão para viver como o Mestre)
  • Ensinem a obedecer (lições, porque se "vive deste jeito"- foi visto no "fazer discípulo"
Lamentavelmente o desejo da natureza humana é batizar rapidamente e dentro de um determinado tempo cronometrado por um número de lições doutrinárias. Mas aqui não há um tempo limitado que se possa afirmar que o discípulo esteja pronto. Por outro lado, é visto, que depois de se tornarem discípulos é que vem o batismo, e por último, é o ensinar a obedecer. É isto que aconteceu na igreja primitiva e que descreve o livro de Atos. Depois das pessoas serem declaradas discípulos estas eram batizadas e mais tarde se aplicava o ensino doutrinário e prático, pois a ordem do Senhor é ensinar a obedecer e não "aprender doutrinas" ou algo semelhante.

Chama a atenção que não se conhecem os discípulos de Pedro. Historicamente, é possível, que Marcos seja seu discípulo. Ele é identificado como o secretário ou intérprete de Pedro. E os discípulos dos outros apóstolos? De Paulo podemos inferir que seus discípulos foram: Timóteo, Tito, Onésimo e uma dezena de companheiros de lutas (seriam os discípulos?).

Entendo que a batalha que o protestantismo ou evangelicalismo brasileiro vive com outras religiões ou seitas desperta nas igrejas o desejo de triunfar sobre os outros grupos religiosos. Isso está na formação apologética da chegada do protestantismo no Brasil e a sua disputa com o catolicismo romano O desejo de ter multidões nos templos e catedrais conduz a produzir não discípulos de Jesus, mas “discípulos em serie”, ou convencidos, que se apresentam com discípulos de Jesus, mas não são convertidos ao discipulado de Jesus

Para viver a espiritualidade no discipulado, precisa-se da vida, é isso é muito mais do que a doutrina. As lições para aprender a espiritualidade do evangelho estão nas ruas, no meio dos excluídos e necessitados, fora dos templos. É ajudar a vencer o abuso de poder, sejam das autoridades religiosas ou políticas. Mas como realmente fazer o discipulado bíblico hoje? Sabemos que não será tarefa fácil se continuar com o modelo atual que não é bíblico. É um modelo bancário. É transferir uma série de informações no cérebro da pessoa. O modelo atual não ensina a vida, mas conduz à morte da fé, na incompreensão da vida do dia a dia. É necessário viver a "encarnação"no modelo de Jesus
O que Jesus ensinou e que Deus aprovou foi fazer o bem a todos. Esse foi o modelo de Jesus. Se há desejo de ter a sociedade brasileira transformada, então se deve começar a mudar o estilo do discipulado. É encarar a vida do dia a dia e deixar para mais tarde o ensino doutrinário ou denominacional. E a cobiçã de ter uma grande catedral cheia....simplesmente de gente.

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