UMA ORDEM DIVINA ESQUECIDA PELA IGREJA CONTEMPORÂNEA


 

A igreja cristã contemporânea entende que a pregação na atualidade deve ser quase que exclusivamente com pautas da moralidade cristã. As epistolas foram escritas para a igreja de Cristo e não foram escrita  para aqueles que não nasceram de novo. A capacitação para viver os padrões bíblicos, segundo as cartas, são especificamente para aqueles que receberam o dom do E.Santo e são capacitados para viverem estes padrões segundo a maturidade que se desenvolvem na sua vida cristã.

Por outro lado, falar de outros temas, fora de estes valores morais, que por diversas vezes se confundem com uma moralidade da sociedade hipócrita na qual a igreja vive e convive, levantam-se criticas contra aqueles que valorizam além dos valores morais, outros valores que   são: valores sociais, ecológicos, relacionamentos, tolerância, respeito e liberdade, tc. Valores que são demonstrados por Jesus no seu ministério e na mensagem central do Reino de Deus

Quando se fala que a igreja deve cumprir a sua missão integral deve ser entendido que a origem dessa missão vem da própria vontade de Deus em relação ao homem para sua sobrevivência. A missão não foi dada em primeiro lugar a uma comunidade particularizada, por exemplo, a igreja. O primeiro ator dessa missão foi o homem e a mulher desde a criação de todas as coisas.

Agora, o homem que vive em sociedade, não somente participando duma igreja cristã, deve estar envolvido nessa missão integral. Essa ordem não é uma ordem exclusivamente com matizes religiosos. É uma ordem de colorido social, de comunidade, de preservação. Essa missão total teve seu início nos primórdios do relacionamento do homem com Deus.

É conhecido como MANDATO CULTURAL. Após a introdução do pecado, cabe ao ser humano para continuar criando meios de cumprimento do trabalho original de preservação da criação e da raça humana.

Todas as questões éticas deveriam passar também por esse “ponto nevrálgico” da missão da igreja – mandato cultural. Geralmente, são usados como base desse mandato, os textos de Gênesis: 1:26-28. Particularmente, entendo que o “ideal de Deus” ou o “ideal do seu reino”; se encontra nos dois primeiros capítulos do Gênesis. Quem deseja conhecer o que é Reino de Deus, missão integral, vida de qualidade, basta analisar o texto de Gênesis 1-2. 

 MANDATO CULTURAL

Colaborando com a criação Gênesis 1: 26-28

26 E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. 27 E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. 28 E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar.

Definição

Entende-se como mandato cultural, a primeira ordem dada por Deus, à raça humana, logo após o ato da criação. Ainda no Éden e bem antes da queda, o ser humano, homem e mulher, criados por Deus, foram envolvidos pelo Criador em algumas tarefas e funções, especialmente, a de estabelecer regras para sua sobrevivência no relacionamento pessoal, interpessoal, com as demais criaturas e com toda a natureza.

Não é só o político que tem mandato. Todos os seres humanos têm um mandato cultural dado por Deus. Deus não cria um mundo acabado, mas providencia todo o material necessário e dá ao homem, um ser criador, a responsabilidade e o privilégio de desenvolver as potencialidades do mundo criado. Ao homem é oferecida uma vida plena e dinâmica, com possibilidades para explorar e com projetos para realizar. O desenvolvimento cultural em todos os sentidos, desde a técnica até a cultura erudita, passando pela elaboração de instituições sociais e políticas, é a vontade de Deus para com o homem (Não, é claro, na forma como tem sido feito, que reflete também a presença do pecado). Por isso, o cristão, como todos os homens, deve envolver-se, de acordo com a sua vocação, nos estudos, na ciência, na política, na economia, nos esportes... (Paul Freston. Neemias: um profissional a serviço do Reino. P.97). O homem, então, é como um marceneiro que Deus fez e colocou numa gigantesca oficina já repleta de matéria-prima e ferramentas, e a quem Deus disse: “Com esses materiais, crie coisas!” Somos chamados a ser colaboradores de Deus na criação do mundo. Certamente, nas formas de convivência humana, ainda há muita coisa para se criar. (Paul Freston. Neemias: um profissional a serviço do Reino. p.98). 

C. René Padilha, teólogo latino-americano, assim define o mandato cultural: O homem é a imagem de Deus, porque o representa e está investido de sua autoridade. O Deus, ao qual o homem se parece é aquele que cria o universo e os seres viventes por meio de sua palavra, mas, imediatamente, faz uma imagem de si próprio e o coloca no mundo como seu representante. É o Criador que implanta no Homem sua própria criatividade e faz dele seu legítimo representante, confiando-lhe a mordomia de sua criação. Ao Homem, como sua imagem, seu representante, Deus dá faculdade de reproduzir-se e confia a mordomia do mundo. A tarefa humana fundamental é o governo da realidade criada, em representação a Deus e sob sua autoridade. Esse é o Mandato Cultural, em cujo cumprimento o ser humano manifesta, efetivamente, que é Imago Dei. O Homem completo, como ser somático e espiritual, assemelha-se a Deus porque a ele foi confiada a mordomia da criação. Nisso se radica a base da responsabilidade humana no uso e cuidado dos recursos naturais, bem como, no desenvolvimento científico e tecnológico.

Para J. Stott, teólogo anglicano e britânico, o Mandato Cultural se estabelece em três afirmações legítimas:

1. Deus deu ao homem domínio sobre a terra. Assim, pois, desde o princípio, os seres humanos foram dotados de uma dupla unicidade: têm a imagem de Deus (que compreende qualidades racionais, morais, sociais e espirituais que tornam possível nosso conhecimento d’Ele), e exercemos domínio sobre a terra e suas criaturas. De fato, o caráter único do domínio sobre a terra se deve ao caráter único da nossa relação com Deus.

2. Esse domínio é corporativo. Ao exercer o domínio recebido de Deus, não se cria os processos da natureza, senão que se coopera com eles. Nesse sentido é um senhor, de acordo com o propósito de Deus e seu mandato. Porém, também, é um filho em sua dependência última da providência paterna de Deus, que é quem lhe dá a luz do sol, a chuva e estações frutíferas do ano.

3. Esse domínio é delegado e, portanto, responsável. O domínio que exercemos sobre a terra, não nos pertence por direito, senão, somente, por favor. A terra nos “pertence” não porque a criamos nem porque somos seus proprietários, senão, porque seu Criador no-la tem confiado para dela cuidar.

Timóteo Carriker, missionário e missiólogo no Brasil, assim define o mandato cultural:

A imagem de Deus imputada no homem, a de “reinar” ou “dominar”, que é constatada em Gênesis 1.26, é elaborada logo depois nos versículos 27 e 28. O versículo 27 esclarece que essa tarefa pertence ao homem no sentido genérico, isto é, ao homem e à mulher. Somente os dois juntos realizam a primeira ordenança de Deus, e nenhum dos dois só, é capaz de realizá- la (CARRIKER, 1992, p.23).

O que se deduz então, é que o ser humano, desde a origem da sua criação, tem responsabilidade diante daquilo que o rodeia. A ordem é “reinar”, “dominar” e originalmente ambas ideias trazem o conceito de domínio para “preservar” para si mesmo. Noutras palavras, Deus criou o ser humano e lhe deu o “poder da autopreservação” mediante o uso da criação.

A negligência do mandato cultural tem trazido a quebra de harmonia em todos os contextos da terra. Quando se fala sobre mandato cultural, missão integral, deve ser entendido como sendo a caminhada da restauração de todas as coisas, tendo como modelo o relato da criação.

A negligência à ordem dada por Deus tem trazido consequências negativas para a criação. Tem se permitido:

• que a terra seja entregue nas mãos dos que não tem nenhum temor a Deus,
• Nenhum respeito ao próximo, e
• Nenhum cuidado com a nossa casa, que é o planeta e a sua maravilhosa natureza.

Essa negligência abriu um grande espaço para os movimentos ecológicos, que na verdade deveria ser uma luta daqueles que se confessam seguidores do ensino da Palavra de Deus.

O mandato cultural também nos aponta o caminho da excelência. Fazer da melhor forma o que se faz, exige domínio daquela ciência, e não fazê-lo de forma negligente, pois essa não é uma atitude que Deus espera de quem serve.

Exercer responsavelmente o mandato cultural significa também cuidar adequadamente da natureza. Os frutos dessa atitude é que grande parte dos problemas no mundo, tais como fome, escassez de água, poluição generalizada, alta demanda por moradia, todas essas questões seriam amenizadas. Essa é a responsabilidade do cristão, assumindo-a, ele se torna relevante.

Como foi dito anteriormente, os capítulos um e dois do livro de Gênesis, mostram o “mundo original de Deus”. Diversos aspectos do mandato cultural podem ser observados nesses dois capítulos. Não são somente os textos de Gênesis:1:26-28 que devem ser enxergados como o mandato cultural. Mas ao mesmo tempo, deve ser entendido que o restante do capítulo é um desdobramento dessa ordem.

O estudante da Bíblia pode observar que a história bíblica começa com a criação num estado original. Não há problemas, a natureza é preservada, os relacionamentos sociais, interpessoais e com a natureza são vivenciados livremente. O cuidado e manutenção da criação são perfeitos. Também o fim da história bíblica, que é apresentada pelas Sagradas Escrituras, termina numa criação. Ela termina numa “nova criação”. É nova, pois o pecado relatado em Gênesis”3 apresenta a queda do ser humano. Essa queda, ou teologicamente chamado de “pecado original”, trouxe suas consequências produzindo, assim, uma quebra de relacionamentos e preservação do ser humano com seu próximo, consigo mesmo e com a natureza, e com o próprio Deus. A criação original na sua perfeição trouxe problemas sociais, psicológicos, ecológicos e religiosos. Assim, houve uma destruição integral. 

A missão integral, é a missio Dei, não é a missão da igreja, mas a missão do próprio Deus, que usa a igreja como Sua ferramenta para efetivar esse mandamento dado desde o principio. Podemos parafrasear Jesus, diante da pregação e prática  ministerial da igreja evangélica brasileira: "não foi assim, desde o princípio..."

 

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